As chances de gravidez em tratamentos de reprodução humana assistida melhoram muito, porque pulamos uma série de etapas, que são necessárias até a implantação embrionária no útero e tentamos formar mais embriões para implantação.
As etapas e condições do processo reprodutivo natural são:
Sincronia
É necessário que haja uma ótima quantidade de espermatozoides na porção final das trompas no momento em que o óvulo sai do ovário – ovulação.
O espermatozoide tem que estar no lugar certo, no momento exato para ter chance de fertilização.
Amostra espermática adequada
Os espermatozoides avaliados em um espermograma devem ter concentração, motilidade e qualidade adequados, justamente para avaliar se chegarão até as trompas em condições de fertilizar os óvulos. Há a necessidade de 15 milhões de espermatozoides, com 32 % de boa motilidade e pelo menos 4% de boa qualidade em um dos critérios (Krüger), para que exista boa chance de fertilização. Isso quer dizer que nestas condições existem chances de chegarem em torno de 5 milhões de bons espermatozoides na porção final das trompas para um fertilizar um óvulo!
Permeabilidade tubária
As trompas têm inúmeras funções além da permeabilidade para ser o caminho de passagem dos espermatozoides, óvulos e embrião. Tem células complexas, que com cílios, fazem um fluxo de passagem e trânsito para as células que ali estiverem. Além disso, tem produção de substâncias importantes para nutrição e imunologia do processo de fertilização e crescimento embrionário.
O embrião demora de 5-7 dias para percorrer as trompas desde sua porção final até a chegada ao útero. Neste tempo vai sofrendo uma série de divisões celulares, de forma que em sua chegada ao endométrio, tenha a diferenciação necessária em embrião e massa celular que irá originar os anexos – placenta, membranas e outros apêndices, para a implantação embrionária.
Ovulação com produção hormonal adequada
Todos os meses o cérebro através de hormônios estimula o recrutamento de 1000 óvulos a amadurecerem nos ovários, para somente um deles chegar ao ponto de ovulação, com metade da carga genética, e se juntar com os 23 cromossomos do espermatozoide. Enquanto isso ocorre há a produção de estrógeno para espessar o endométrio e depois da ovulação, da progesterona que termina o preparo endometrial para receber o embrião. Sem isso o endométrio não consegue as características necessárias para implantação embrionária.
Integridade do endométrio
O endométrio possui características funcionais importantes em resposta aos hormônios femininos, que são sincronizadas para estar nas melhores condições a receber os embriões. Situações que rompem esta normalidade, como infecções, cicatrizes, tumores podem dificultar este preparo à implantação dos embriões.
Embriões saudáveis
O processo de formação dos embriões é um milagre da natureza onde a cada encontro há a combinação de 23 cromossomos femininos com 23 cromossomos de origem masculina. Esta nova combinação permite tamanha variabilidade genética, que somos todos diferentes e individuais no mundo. È sempre uma nova combinação realizada a cada encontro, que na maioria das vezes não dá certo, tanto que as chances naturais de gravidez gira em torno de 10-20%.
Sem esta combinação resultar em um embrião com 46 cromossomos, tudo dito anteriormente não resulta em uma gravidez saudável.
Todas as avaliações e tratamentos realizados, imitam a natureza nestas etapas visando melhorar cada vez mais as chances de gravidez. E já melhorou muito, saímos de chances de 10-20% e hoje chegamos a 50-60% dependendo da idade da mulher e patologias encontradas.
Está aí um grande enigma a ser resolvido e tratado – a idade da mulher!
A idade da mulher e a gravidez
Como a mulher nasce com os óvulos que terá a vida inteira, eles envelhecem juntos, piorando a material genético que dará origem ao novo embrião, causando mais vezes embriões com carga genética inadequada à sua sobrevivência, que não se implantarão ou terminarão em abortos.
Muitos estudos têm tentado melhorar todas estas etapas, justamente porque esta – a idade da mulher, não temos o que fazer.
Um fato muito questionado é se existem sinais de que a resposta ovariana será baixa, estou mais velha, não adianta tentar….
Nossa lógica exposta logo no início deste artigo – pular etapas do processo conhecido e ter mais embriões sempre deverá ser sua procura maior para melhores resultados e seu premio final – a gravidez. Muitos tratamentos e alternativas milagrosas não se sustentam no decorrer dos tempos e trabalhos científicos que norteiam nossa prática clínica.
No mês de junho/2019 saiu este trabalho holandês na revista Human Reproduction que bem espelha estas discussões acima.
“Taxas cumulativas de nascidos vivos em mulheres com prognóstico desfavorável”
Um resumo dos achados mostra que as taxas cumulativas de nascidos vivos (TCNV) ao longo de vários ciclos de IVF / ICSI (18 meses) pode chegar 56% em mulheres com prognóstico ruim, o que é principalmente atribuível ao impacto da idade feminina.
Vejam que embora haja sempre a tentativa de variações de tratamentos, o foco sempre recai sobre a idade materna, porque no final é onde se converge nossos problemas.
O que fica para pensar e decidir?
- O melhor que se faz é tentar;
- Em pacientes mais velhas não podemos perder tempo;
- Veja que os resultados são piores porque há um decréscimo da qualidade oocitária, mas tentando, as chances podem chegar a 4-5 vezes melhor que as taxas espontâneas de mulheres jovens;
- Não importa tanto as propostas e alternativas de medicamentos, mas sim fazer e ao longo do tempo não há diminuição das chances de gravidez, ela é cumulativa; ou seja, a cada vez que fizer um tratamento, você estará novamente concorrendo ao prêmio, sem perdas de chances.