Em humanos e muitas outras espécies, mudanças no estado nutricional do corpo pode ter profundas influências sobre a atividade do sistema reprodutivo.

Influência da desnutrição no corpo feminino

  • durante a infância e o período peripuberal a desnutrição pode significativamente atrasar ou impedir o despertar puberal do eixo reprodutivo;
  • na idade adulta, a desnutrição crônica está associada um aumento da incidência de falta de ciclos (aciclicidade) ou ciclos irregulares por modificações hormonais ovarianas e
  • com atrofia gonadal e infertilidade em homens.

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Regulação hormonal das gônadas

Tanto no homem como na mulher quem regula a função hormonal reprodutiva são hormônios cerebrais produzidos no hipotálamo, área do cérebro com diversas funções mais básicas de sobrevivência e controle hormonal.

Seus hormônios ligados ao aparelho reprodutivo são chamados GnRH, e são moduladores da função dos hormônios da hipófise, glândula situada na base do cérebro e que coleciona inúmeras funções controladoras dos hormônios do corpo, dentre eles os reprodutivos – FSH (Hormônio folículo estimulante) e LH (Hormônio luteinizante). Nesta cascata, estes agora são os que estimulam o recrutamento dos espermatozoides e dos óvulos em períodos cíclicos individuais para os homens e mulheres. O raciocínio é o mesmo, as gônadas masculinas e femininas respondem diferentemente quanto ao ciclo de amadurecimento de suas células germinativas.

Como a desnutrição influencia a regulação hormonal

Em todas as espécies, a supressão de atividade gonadal em estados subnutridos está associada a diminuição das concentrações circulantes dos hormônios cerebrais que controlam as gônadas através do hormônio luteinizante (LH) e em alguns, mas não em todos os casos, com diminuição das concentrações hormonais do folículo estimulante (FSH).

Vários estudos demonstraram que tratamento de indivíduos desnutridos com administração pulsátil de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) exógeno pode aumentar as concentrações plasmáticas de LH, FSH e hormônios esteroides gonodais (estrógeno, progesterona e testosterona) e restaurar a fertilidade quando administrada cronicamente.

Esses resultados fornecem evidências de que a supressão da função reprodutiva em estados subnutridos resulta da secreção insuficiente de GnRH dos neurônios hipotalâmicos (lugar do cérebro que controla a hipófise).

O mecanismo pelo qual a desnutrição causa uma modificação central do eixo reprodutivo é desconhecida.

Contudo, numerosos relatos mostrando uma correlação entre a incidência de disfunção reprodutiva e a gravidade da perda de peso corporal e / ou a diminuição percentual da gordura corporal tem fornecido suporte para a hipótese de que o sinal central que suprime o eixo reprodutivo em estados subnutridos só ocorre quando o corpo atingiu um ponto crítico de desnutrição, que é acompanhado por perda significativa de peso corporal e gordura corporal.

Uma hipótese alternativa é que alterações fisiológicas que ocorrem precocemente em períodos de desnutrição servem como sinais para começar a suprimir a unidade central para o eixo reprodutivo, e que estes sinais se intensificam com o estado de desnutrição à medida que se torna mais profunda, levando a uma maior supressão da função reprodutiva.

Existem ainda evidências em estudos realizados nos estágios iniciais de desnutrição que caracterizam “sinais” que são capazes de suprimir a função reprodutiva e podem fornecer informações relevantes para definir que mudanças leves no estado metabólico do corpo que ocorrem em situações fisiológicas, como a puberdade e a depressão, desempenham um papel na modulação da função reprodutiva.

Em contraste, parece provável, embora continue a ser rigorosamente testado, que em períodos de desnutrição crônica tanto o estresse quanto os sinais nutricionais possam agir em conjunto para suprimir a secreção do hormônio reprodutivo.

Fertilidade e mecanismo adaptativo nutricional

É interessante notar que podemos ler nestas condições, um equilíbrio impressionante da natureza que direciona as energias e metabolismo do corpo para poupar o máximo possível. Não são estas as condições ideais para procriar, etapa de intenso metabolismo e modificações corporais adaptativas para levar uma gravidez adiante e ter uma criança e mãe saudáveis ao final de tudo.

Estamos falando de situações extremas em que a sobrevivência é o que importa e o organismo redireciona todos seus comandos para extração das melhores condições para perpetuação da vida e não da espécie.

Vemos sempre dizer que situações de pobreza estariam ligadas a um aumento da natalidade. É uma análise muito simplista e que não pode ser assim discutida, pois envolvem variáveis socioeconômicas e culturais importantes, talvez mais importantes que o biológico.

Poderíamos relevar as condições em que não havendo obesidade, mas ainda com equilíbrio metabólico, talvez sim estariam mais propícias às chances de gravidez.

Faltou lembrar da fome crônica do desequilíbrio nutricional, que levam as dietas desbalanceadas e que estariam associadas à uma anovulação crônica, as vezes mesmo em pacientes obesas.

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