O espermograma é o exame específico e principal para análise da capacidade reprodutiva masculina.

Então, logo que se suspeita de problemas masculinos ou mesmo para homens que vão realizar seus exames de rotina, pelo menos uma vez na vida, deveriam realizar este exame, porque muitas vezes encontramos alterações sem modificações ou sintomas clínicos, que possam evidenciar problemas adiante.

Quais as principais causas de alterações em um espermograma?

Genética – alterações na formação inicial do embrião podem repercutir na formação das células produtoras de espermatozoides que migram para o testículo, e repercutem na produção e qualidade dos espermatozoides após a puberdade, quando esta produção se torna eficiente.

Traumas – Traumas testiculares agudos ou crônicos podem alterar a produção espermática, possivelmente por desestruturar a anatomia testicular promovendo modificações na vascularização e inervação testicular culminando com atrofia e cicatrizes.

Infecção – Diversas infecções podem prejudicar a produção espermática. Talvez a mais emblemática seria a caxumba que “desceu” provocando uma orquite, cuja lembrança será uma diminuição da quantidade e qualidade espermática. Também outras infecções como clamídia, gonorreia, tuberculose podem trazer atrofias e obstruções que levam até a falta total de espermatozoides no ejaculado – azoospermia.

Varicocele – A dilatação dos vasos que irrigam os testículos, que leva este nome, pode trazer aumento da temperatura e dificuldades na drenagem das substâncias tóxicas que permanecem nesta região e induzem danos tanto na qualidade como na quantidade espermática. Interessante notar que muitas vezes, mesmo operando, estas modificações não regridem e indicam procedimentos de reprodução humana assistida (RHA). Quando a cirurgia está indicada por outros sintomas como dor incapacitante, ela deve ser realizada; para questões reprodutivas é controverso e nossa posição é não operar e realizar RHA, pois os resultados são muito melhores.

Drogas lícitas ou ilícitas – É sabido que substâncias tóxicas como pesticidas que podem até deixar resíduos e provocarem doenças sistêmicas, também podem afetar os testículos. As drogas ditas ilícitas como a maconha e cocaína podem trazer quadros até irreversíveis aos espermatozoides. Os anabolizantes podem levar a atrofia testicular com grande repercussão posterior, às vezes, sem volta. Também tratamentos quimioterápicos contra câncer podem repercutir negativamente e definitivamente na produção espermática, condição que indica criopreservação de sêmen antes do tratamento.

Irradiação – São situações que lesam os espermatozoides definitivamente, tanto quando em tratamento contra o câncer, como em situações de trabalho em ambientes com altas doses de irradiação.

Disfunções anatômicas – Tanto a criptorquidia como o testículo retrátil, que são condições congênitas que fazem com que os testículos não desçam para a bolsa escrotal, podem imprimir condições de aumento de temperatura e outras disfunções anatômicas, que prejudicam a formação dos espermatozoides.

Vasectomia – A vasectomia é a interrupção da saída dos espermatozoides por obstrução do canal deferente, causando o impedimento da saída dos espermatozoides no ejaculado. É bom lembrar que continuam a ser produzidos nos testículos, mas podem sofrer com o tempo, alterações em sua quantidade e qualidade, talvez relacionados a problemas imunológicos induzidos pós vasectomia. Este é um dos motivos principais para pensar em RHA e não em reversão de vasectomia, quando o casal novamente quer engravidar.

Com os dados analisados no espermograma é possível uma avaliação e definição que tratamento poderia ter melhores resultados, ou tratamentos que não deveriam ser realizados, pois as chances seriam abaixo das conseguidas espontaneamente como parâmetro de comparação.

Sua realização é muito simples e a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou alguns critérios no ano de 2010 para uma correta análise.

A coleta do sêmen é realizada por masturbação e recomenda-se que o homem fique de 02 a 05 dias em abstinência sexual, embora diversos estudos já tenham demonstrado que a variação na concentração dos espermatozoides ou de sua motilidade e/ou forma varie pouco, se este período não for adequadamente seguido.

Abaixo, um quadro com os parâmetros de referência dos valores dentro da normalidade de cada item:

Análise Macroscópica

Parâmetros analisados

DescriçãoValores de referência

Cor e aspecto

Apresentação da amostra pode variar de acordo com a concentração e elementos presentes na amostra.

Branco opalescente

Tempo de liquefação

Tempo gasto para a amostra do material se tornar líquida completa.

≤ 60 minutos

Volume em mililitros (ml)

Volume total ejaculado.

≥ 1,5 ml

Viscosidade

Este parâmetro pode variar entre normal ou aumentada.

Normal

pHpH do líquido seminal apresenta-se básico.

≥ 7,2

 

Análise Microscópica

Parâmetros analisados

Descrição

Valores de referência

Concentração por ml

Quantidade de espermatozoides por ml.

≥ 15,0 milhões por ml

Concentração total

Quantidade de espermatozoides no volume total  do ejaculado.

≥ 39,0 milhões no ejaculado

Motilidade progressiva (MP)

Espermatozoides que se movem em sentido direcional (deslocam em uma direção).

≥ 32 % MP

Motilidade não progressiva (NP)

Espermatozoides que movem a cauda, mas não se deslocam.

40% MP + NP

Imóvel

Espermatozoides sem motilidade.

Morfologia (ou forma): critérios estabelecidos por Krüger, chamados de morfologia estrita

Análise do formato, do tamanho do espermatozoide, de sua cauda e a peça intermediária que liga estas porções.

≥ 4% de ovais normais

Vitalidade

Teste utilizado para os pacientes que possuem 40 % de espermatozoides imóveis e que nos dá a porcentagem de espermatozoides vivos na amostra.

≥ 58% de espermatozoides vivos

Concentração de células redondas

Células indiferenciadas presentes na amostra e, em geral, representam as células da espermatogênese.

≤ 1,0×106/ml

Concentração de leucócitos

Concentração de leucócitos por ml na amostra

≤ 1,0×106/ml

 

Na medicina reprodutiva existem nomenclaturas específicas para rotular a presença ou não de alterações. Assim, o homem cujo espermograma é normal recebe o nome de normospermia.

Principais alterações mencionadas ao final de um espermograma

Hipospermia: volume de sêmen ejaculado abaixo de 1,5 ml.

Oligozoospermia: concentração de espermatozoides abaixo de 15 milhões/ml.

Para fins de tratamento, é subdividida em:

Oligozoospermia leve: quando a concentração varia de 5,0 milhões/ml até 14,9 milhões/ml.

Oligozoospermia moderada: concentração de espermatozoides de 1,0 milhões/ml até 4,9 milhões/ml.

Oligozoospermia grave: concentração de espermatozoides de 0,1 milhões/ml até 0,9 milhões/ml.

Astenozoospermia: motilidade progressiva espermática abaixo de 32%.

Necrozoospermia: porcentagem de espermatozoides vivos abaixo de 58%.

Leucocitospermia: alta concentração de leucócitos na amostra seminal.

Teratozoospermia: espermatozoides com formato perfeito abaixo de 4%.

Azoospermia: ausência de espermatozoides no sêmen ejaculado.

Criptozoospermia: após centrifugação de todo volume ejaculado, são encontrados raros espermatozoides.

Normozoospermia: paciente sem nenhuma alteração nos parâmetros acima.

A partir da análise destes parâmetros poderá ser necessário complementação de exames laboratoriais ou de imagem.

Exames complementares mais frequentes

Fragmentação de DNA: permite a identificação de áreas fragmentadas dentro do DNA espermático. Essa fragmentação, se alterada, pode trazer ao casal abortos de repetição, má qualidade embrionária ou a não gravidez.

Ultrassonografia da bolsa escrotal: identifica a presença de varicocele, tumores e cistos.

Carga viral: utilizada para pacientes com sorologias alteradas, como HIV, Hepatite, HTLV, para que no dia da fertilização seja utilizado um sêmen testado previamente e livre de quaisquer contaminações. Este sêmen passa por um processo de centrifugação e lavagem, na qual é retirado todo o líquido seminal contaminado, restando apenas os espermatozoides. Uma vez comprovada a não infecção dos espermatozoides, elas já podem ser utilizadas para a fertilização.

Baseado nestes parâmetros iremos analisar que caminhos tomar. Esquematicamente podemos dizer que:

Exame normal – Tentativas em casa ou coito programado, na dependência da avaliação do fator feminino. Se houver um fator feminino, este é que indicará qual procedimento será proposto.

Exame pouco alterado – Passível de correção da concentração, motilidade e qualidade espermática, indicam procedimento mais simples como a Inseminação artificial intrauterina.

Exame muito alterado – Indicam procedimentos de RHA mais sofisticados que podem utilizar somente um espermatozoide para cada óvulo – ICSI, a injeção intracitoplasmática de espermatozoides ou a Fertilização in vitro quando ainda é possível uma concentração de 1 milhão de espermatozoides/ml.

Este é um exame muito simples, mas como vimos, determina que caminhos seguiremos. Sem ele, não temos condições de indicar o melhor e mais eficiente tratamento de RHA.

É importante salientar que cabe ao Especialista em Reprodução Humana Assistida a correta interpretação do exame, e a tomada de decisão quanto às medidas a serem tomadas.

Para agendar sua consulta, você pode nos enviar uma mensagem pelo site, telefonar para (16) 3421-9707 ou enviar um WhatsApp!

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